sexta-feira, 20 de junho de 2025

Sectarismo Cap.1 e 2


 

O IMPACTO DO SECTARISMO RELIGIOSO NA MISSÃO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS

Desvendando o Sectarismo: Uma Investigação Bíblica e Histórica sobre Suas Causas, Efeitos e o Caminho da Unidade

Pr. Kleiton Fonseca

INTRODUÇÃO

A Igreja de Jesus Cristo, por sua própria natureza e vocação divina, é chamada a ser um corpo unido, testemunha fiel do Evangelho no mundo. Essa unidade, forjada pelo Espírito Santo e centrada na pessoa e obra de Cristo, é fundamental não apenas para a saúde interna da comunidade de fé, mas também para a eficácia de sua missão. No entanto, ao longo da história, e de forma particularmente acentuada no cenário evangélico contemporâneo, a realidade da fragmentação e do isolamento tem se manifestado de forma preocupante, minando o testemunho coletivo e desviando recursos e energias de seu propósito maior. Esse fenômeno é comumente conhecido como sectarismo religioso.

Este eBook se propõe a investigar profundamente o impacto do sectarismo religioso na missão das igrejas evangélicas. Não se trata de um problema meramente sociológico ou histórico, mas de uma questão teológica e pastoral de suma importância, que desafia a própria identidade e o propósito da Igreja conforme revelado nas Escrituras.

Iniciaremos definindo o conceito de sectarismo religioso e a abrangência da missão da Igreja, estabelecendo um vocabulário comum para nossa análise. Em seguida, percorreremos a história bíblica, desde o Antigo Testamento até a Igreja Primitiva, demonstrando que o sectarismo não é um fenômeno novo, mas uma tendência humana persistente. Dedicaremos especial atenção às diversas causas e fatores que propiciam o surgimento do sectarismo nas igrejas, abordando desde o orgulho espiritual e a interpretação isolada das Escrituras até o medo da influência externa e a falta de maturidade eclesiológica. Será crucial examinar como a elevação de tradições humanas a condição de doutrina, a busca por experiências religiosas distintas como critério de salvação, a ignorância da unidade intrínseca do Corpo de Cristo e o receio da perda de identidade contribuem para o fechamento e a exclusividade.

Analisaremos as características de uma igreja sectária, contrastando-as com uma compreensão bíblica da Igreja, e reafirmaremos a missão da Igreja sob uma perspectiva bíblica e teológica inegociável. A fundamentação bíblica será constante, apontando para passagens que condenam as divisões e exortam à unidade. Por fim, não apenas diagnosticaremos o problema, mas também apresentaremos soluções práticas e bíblicas para prevenir o sectarismo, buscando restaurar a plenitude da comunhão e a eficácia da missão da Igreja.

Nosso objetivo é que este estudo sirva como um chamado à reflexão e à ação para líderes e membros de igrejas evangélicas. É um convite a reconhecer as armadilhas do sectarismo, a retornar à centralidade de Cristo e de Sua Palavra, e a redescobrir a beleza e o poder da unidade do Corpo, a fim de que a Igreja cumpra sua vocação divina e seja, de fato, a coluna e baluarte da verdade, glorificando a Deus e alcançando o mundo com o Evangelho da reconciliação.


CAPITULO 1

 Conceituação do Sectarismo Religioso

RESUMO

Este segmento conceitua o "sectarismo religioso", explorando sua etimologia, desenvolvimento histórico e definições teológicas e sociológicas contemporâneas. A análise etimológica da palavra "secta" desde o latim clássico até sua conotação pejorativa na Idade Média cristã é apresentada. Em seguida, a definição atual de sectarismo religioso é estabelecida, com base em abordagens teológicas e sociológicas. O uso histórico do termo por figuras como Cícero, Santo Agostinho, John Locke e Jean-Jacques Rousseau é examinado, bem como a perspectiva de teólogos protestantes contemporâneos como Jürgen Moltmann e Russell Shedd. Uma tabela comparativa sintetiza o uso do termo em diferentes campos.

Palavras-chave: Sectarismo; Secta; Etimologia; Conceituação; Teologia; Sociologia; História.

1 CONCEITOS

O entendimento do "sectarismo religioso" exige uma exploração de sua origem etimológica e de sua evolução conceitual ao longo da história, culminando em definições teológicas e sociológicas contemporâneas.

1.1 Etimologia da Palavra "Sectarismo"

A palavra "sectarismo" deriva do latim secta, que originalmente significava "seguimento", "linha de pensamento" ou "partido". A raiz de secta é o verbo sequi, que significa "seguir". No uso clássico romano, secta era um termo neutro, designando um grupo de discípulos que aderiam a uma determinada doutrina ou mestre, como exemplificado por Cícero em referência a escolas filosóficas (secta stoicorum, “escola dos estoicos”).

No entanto, com o desenvolvimento da Igreja institucionalizada, especialmente a partir da influência do cristianismo latino-medieval, o termo secta passou a adquirir conotações negativas. Começou a ser empregado para indicar grupos dissidentescismáticos ou heréticos que se afastavam da ortodoxia e da comunhão majoritária da Igreja. O sufixo "-ismo" adicionado à secta denota um sistema de crença ou um comportamento. Assim, "sectarismo" veio a significar a atitude ou prática de aderir rigidamente a uma "seita", com um senso de exclusividade, frequentemente em oposição ou rejeição a outras expressões de fé.

1.2 Definição Atual (Teológica e Sociológica)

No contexto contemporâneo, o sectarismo religioso pode ser definido como:

A atitude de fechamento doutrinário e relacional que considera apenas seu próprio grupo ou tradição como verdadeiro ou legítimo, desprezando ou condenando outras expressões de fé, promovendo divisão dentro do cristianismo e exclusivismo religioso. (Adaptado de Boff, 1981).

Essa definição abrange tanto a dimensão interna de coesão grupal quanto a dimensão externa de ruptura com a comunidade mais ampla.

1.3 Emprego Histórico e Filosófico

O uso do termo "secta" e, consequentemente, a ideia de sectarismo, evoluiu em diferentes contextos intelectuais:

  • Santo Agostinho (354-430 d.C.): Influente teólogo cristão, Agostinho empregou o termo secta com forte carga negativa, referindo-se a grupos heréticos como os donatistas. Para ele, o sectarismo era uma manifestação de cisma e de falta de caridade, distanciando o grupo de "Os hereges, em sua seita, não podem ver a caridade da Igreja universal" (Contra epistulam Parmeniani, 396 d.C.).

  • John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): Com a explosão denominacional protestante na Idade Moderna, filósofos como Locke e Rousseau abordaram o problema do sectarismo sob a ótica da liberdade religiosa e do contrato social. Eles viam o perigo de que a religião, ao se fechar em si mesma, perdesse sua função pública e racional, tornando-se uma fonte de intolerância e conflito social. Locke, em sua Carta sobre a Tolerância (1689), observou que "Cada seita é um império em miniatura... o sectário confunde liberdade com domínio".

1.4 Na Teologia Protestante Contemporânea

A teologia protestante moderna também tem se debruçado sobre a questão do sectarismo, frequentemente ligando-o à negação da unidade do Corpo de Cristo:

  • Jürgen Moltmann (n. 1926): O renomado teólogo reformado Moltmann descreve o sectarismo como uma falha teológica e prática: "O sectarismo é a tentativa de salvar a verdade à custa do amor, e por isso se transforma em negação da própria verdade que afirma preservar" (A Igreja na Força do Espírito, 1975). Essa perspectiva aponta para a interconexão inseparável entre ortodoxia (verdade) e ortopraxia (amor/unidade).

  • Russell Shedd (1929-2016): O teólogo evangélico brasileiro Russell Shedd advertia sobre a sutileza do sectarismo: "Quando uma igreja começa a pensar que é o único povo de Deus, já caiu em uma armadilha sectária, mesmo que mantenha ortodoxia doutrinária" (O Espírito, a Igreja e o Mundo, 1999). Shedd destaca que a ortodoxia doutrinária, por si só, não é garantia contra o sectarismo se houver exclusivismo e desprezo pela comunhão mais ampla.

O quadro a seguir sintetiza o uso do termo "sectarismo" em diferentes campos:

CampoUso do termo "Sectarismo"
FilosofiaEscolas de pensamento exclusivistas (ex. estoicos, epicuristas)
SociologiaGrupos religiosos com forte coesão interna e ruptura externa
TeologiaPostura herética ou cismática em relação à comunhão da Igreja
Eclesiologia ReformadaNegação prática da unidade do Corpo de Cristo

    

CAPITULO 2

História do Sectarismo Religioso: Uma Investigação Bíblica

RESUMO

Este segmento explora as raízes históricas do sectarismo religioso através de uma investigação bíblica aprofundada. Demonstra-se que o sectarismo não é um fenômeno recente, mas uma realidade presente em toda a revelação, manifestando-se sempre que o ser humano se afasta da centralidade da aliança divina. A análise abrange o Antigo Testamento, com exemplos como a rebelião de Corá, a religião de Jeroboão e a atuação de falsos profetas e grupos dissidentes. No Novo Testamento, discute-se o sectarismo nas facções em Corinto, o desafio dos judaizantes e as distinções entre fariseus, saduceus e essênios. Por fim, são investigadas as raízes antropológicas do sectarismo, evidenciando a tendência humana à autonomia religiosa. Uma tabela comparativa sintetiza os movimentos sectários ao longo dos períodos bíblicos.

Palavras-chave: Sectarismo; História Bíblica; Antigo Testamento; Novo Testamento; Cisma; Heresia; Antropologia Bíblica.

 INTRODUÇÃO: UMA REALIDADE PRESENTE EM TODA A REVELAÇÃO

O sectarismo, em sua essência de exclusivismo e divisão, não é um fenômeno restrito à contemporaneidade ou a períodos específicos da história da Igreja. Ao contrário, suas raízes podem ser rastreadas desde os primeiros momentos da relação entre Deus e a humanidade, conforme delineado nas Escrituras. Sempre que o ser humano se afasta da centralidade da aliança divina e da verdade revelada, surge a tendência de formar grupos de oposição, com estruturas, discursos e identidades próprias, resistindo à comunhão estabelecida por Deus e à submissão à Sua Palavra.

Este capítulo se dedicará a investigar biblicamente a história do sectarismo, desde suas manifestações no Antigo Testamento até suas expressões no Novo Testamento, buscando compreender suas causas e consequências para a fé e a comunidade.

2 NO ANTIGO TESTAMENTO: RAÍZES PRIMITIVAS DO ESPÍRITO SECTÁRIO

O Antigo Testamento oferece exemplos marcantes de movimentos que exibiram características sectárias, desafiando a ordem divina e a unidade do povo de Israel.

2.1 Corá, Datã e Abirão – Números 16

A narrativa de Números 16 descreve a rebelião de Corá, Datã e Abirão, juntamente com duzentos e cinquenta homens de renome, contra a liderança divinamente instituída de Moisés e Arão (Nm 16:1–2). Questionaram a autoridade espiritual e sacerdotal de Moisés e Arão, alegando que "toda a congregação é santa, e o Senhor está no meio deles" (Nm 16:3). Essa rebelião revela elementos claros de sectarismo:

  • Princípio de Cisão Eclesiástica: Criação de um movimento paralelo com ares de legitimidade religiosa, mas impulsionado pelo orgulho e pela ambição de poder, desafiando a ordem estabelecida por Deus para o governo do Seu povo.
  • Redefinição do Sacerdócio: Tentativa de usurpar e redefinir o ofício sacerdotal com base em critérios humanos de autoproclamação, e não na ordenação divina.
  • Autojustificação como Ideologia Sectária: A afirmação de que "todo o povo é santo" servia como pretexto para minar a autoridade divinamente designada, uma forma de autojustificação para a insurreição.

Conforme comenta Matthew Henry, "O espírito de Corá é o espírito de todos os que querem o poder sem submissão. Todo sectarismo começa com desobediência disfarçada de zelo espiritual."

2.2 Jeroboão – 1 Reis 12:26–33

Após a divisão do Reino de Israel, Jeroboão, temendo que o povo de Israel retornasse ao Reino de Judá para adorar em Jerusalém, instituiu uma nova religião para consolidar seu poder político (1 Rs 12:26-33). Ele construiu dois bezerros de ouro, estabeleceu novos locais de culto em Betel e Dã, nomeou sacerdotes que não eram da tribo de Levi e instituiu um calendário alternativo.

Elementos sectários presentes nessa ação incluem:

  • Criação de Símbolos Religiosos Substitutos: Os bezerros de ouro tornaram-se o objeto central de adoração, substituindo o templo e a arca da aliança.
  • Nomeação de Líderes Ilegítimos: A instituição de um sacerdócio não-levítico representou uma ruptura com a ordem sacerdotal divinamente estabelecida.
  • Manipulação da Fé para Controle Político: A religião foi instrumentalizada para fins políticos, evidenciando um desvio do verdadeiro culto a Deus.
  • Separação Visível do Culto Legítimo: A criação de centros de culto paralelos e um calendário diferente rompeu a unidade do culto em Jerusalém.

Do ponto de vista da Teologia Bíblica, Jeroboão quebrou a teologia da aliança ao inventar uma nova mediação entre Deus e o povo. Isso é o cerne do sectarismo: instituir um "evangelho alternativo" ou um sistema de adoração e governo religioso que se desvia da revelação divina.

2.3 Falsos Profetas e Grupos Dissidentes em Israel

O Antigo Testamento também retrata outros exemplos de sectarismo ou tendências a ele:

  • Os Profetas de Baal (1 Rs 18:19): Embora parte de uma religião de Estado em determinados períodos, a devoção a Baal representava uma heresia e um cisma em relação ao monoteísmo yahwista, sendo uma forma de sectarismo na medida em que desviaram o povo do Deus verdadeiro.
  • Os Samaritanos (2 Rs 17): Resultantes de uma mistura entre povos estrangeiros e israelitas após o exílio assírio, os samaritanos desenvolveram uma religião híbrida que mesclava paganismo com elementos do judaísmo. Embora adorassem o Senhor, faziam-no de uma maneira sectária, com um templo e rituais próprios em Monte Gerizim, rejeitando Jerusalém e a tradição judaica ortodoxa.
  • Os Recabitas (Jr 35): Embora apresentados como moralmente íntegros por sua obediência à ordem de seu ancestral Jonadabe, os recabitas ilustram um tipo de separatismo que, se levado ao extremo, poderia configurar um sectarismo por estilo de vida. Eles se isolaram de Judá, vivendo de forma nômade e abstendo-se de vinho e construção de casas, seguindo uma ordem humana em vez de uma diretriz divina explícita para toda a nação.

Walter Brueggemann, em The Prophetic Imagination, afirma: "A idolatria e o sectarismo são irmãos. Ambos usam o nome de Deus para afirmar um sistema próprio de poder e autoridade, separado da verdade profética."

3 NO NOVO TESTAMENTO: FACÇÕES DENTRO E FORA DA IGREJA

O Novo Testamento continua a expor as manifestações do sectarismo, tanto em grupos religiosos externos ao cristianismo nascente quanto em divisões internas da própria Igreja.

3.1 Fariseus, Saduceus e Essênios

No período interbíblico e nos tempos de Jesus, o judaísmo era marcado pela presença de diversas seitas e facções, cada uma com sua interpretação e prática da fé:

  • Fariseus: Eram conhecidos por sua ortodoxia legalista, que, no entanto, os levou a criar uma "cerca" de tradições humanas em torno da Lei Mosaica (cf. Mt 15:6). Essa supervalorização da tradição oral levou a um exclusivismo e à condenação de quem não seguia seus preceitos.
  • Saduceus: Representavam a elite sacerdotal e aristocrática, caracterizados por uma postura racionalista que negava a ressurreição, anjos e espíritos. Seu interesse primário era manter o status quo político-religioso, e sua visão restrita da Escritura os separava de grande parte do povo.
  • Essênios: Retiraram-se para o deserto, como evidenciado pelos assentamentos de Qumran, onde formaram comunidades monásticas. Rejeitavam o Templo e o sacerdócio de Jerusalém, buscando uma pureza radical e uma vida comunitária isolada, com regras rigorosas de adesão e exclusão.

Esses grupos, do ponto de vista da Antropologia Bíblica, refletem o anseio do ser humano caído de definir a fé pelos próprios parâmetros, excluindo os demais — uma ruptura da comunhão conforme estabelecida por Deus.

3.2 Facções em Corinto – 1 Coríntios 1:10-13

Um dos exemplos mais notórios de sectarismo dentro da igreja primitiva é encontrado na comunidade de Corinto. Paulo repreende as divisões entre os irmãos, que se identificavam com diferentes líderes: "Eu sou de Paulo... eu de Apolo... eu de Cefas... eu de Cristo" (1 Co 1:10-13). O sectarismo aqui se manifesta com base em preferências pessoais, carismas ministeriais e estilos de liderança, desviando a lealdade de Cristo para figuras humanas.

João Calvino, em seu Comentário de 1 Coríntios, observa que "Tais divisões são pestes no corpo de Cristo. A verdadeira religião se curva ao Cristo inteiro, e não a fragmentos humanos de sua obra."

3.3 Os Judaizantes – Gálatas 1–5

Os judaizantes eram um grupo que, dentro da comunidade cristã, tentava impor práticas da Lei Mosaica (como a circuncisão e a observância de rituais judaicos) sobre os gentios convertidos, como condição para a salvação ou para uma espiritualidade "completa". Paulo os acusa de perverter o próprio Evangelho: "Ainda que nós ou um anjo do céu vos pregue outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema" (Gl 1:8). Eles atuavam como uma "igreja dentro da igreja", gerando divisão por meio de exigências não evangélicas e distorcendo a doutrina da justificação pela fé.

4 RAÍZES ANTROPOLÓGICAS DO SECTARISMO NA ESCRITURA

A Escritura revela que o sectarismo não é apenas um problema eclesiástico ou histórico, mas tem raízes profundas na natureza caída do ser humano:

  • Gênesis 4 – Caim: A história de Caim e Abel (Gn 4) apresenta um tipo primitivo de sectarismo. Caim cria um altar separado e oferece um sacrifício que não é aceito por Deus, refletindo o desejo humano de adorar fora do padrão divino e de estabelecer sua própria forma de culto, desconsiderando a revelação de Deus sobre o que Lhe é aceitável.
  • Torre de Babel (Gn 11): A construção da Torre de Babel ilustra a humanidade unida sob um falso propósito religioso e cultural: construir uma torre "cujo topo chegue aos céus" (Gn 11:4). Esse projeto de autossuficiência e autoglorificação, que busca alcançar a Deus pelos próprios meios, representa uma forma primordial de sectarismo universal, pois é um esforço de separação da dependência divina e de criação de um reino humano.
  • Coração Humano Caído: Romanos 1:21-23 descreve a tendência do coração humano caído à autonomia religiosa: "Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, e o coração insensato deles se obscureceu. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis". Essa tendência inata à rebelião e à autoglorificação leva os seres humanos a criar facções e a definir a fé segundo seus próprios termos, em vez de se submeterem à verdade revelada.

Do ponto de vista da Antropologia Bíblica, o ser humano é um ser religioso por natureza (Eclesiastes 3:11), mas sua espiritualidade, corrompida pelo pecado, tende à rebelião e à criação de facções quando não se submete à revelação divina.

O quadro a seguir resume os movimentos sectários ao longo da história bíblica:

PeríodoMovimento SectárioMotivo Principal
ÊxodoCorá, Datã e AbirãoRebelião contra liderança estabelecida
Reino DivididoReligião de JeroboãoControle político-religioso
Pós-cativeiroSamaritanoIdentidade étnico-religiosa separada
Período InterbíblicoFariseus, Saduceus, EssêniosPureza, poder, exclusividade
Igreja PrimitivaFacções em Corinto, Judaizantes, GnósticosPreferência humana e heresia doutrinária

BIBLIOGRAFIA Cap-1e 2

Referências Primárias (Bíblia):

  • Bíblia Sagrada. Nova Almeida Atualizada (ARA). Sociedade Bíblica do Brasil.

Obras Citadas (Teologia, Filosofia, História):

  • Agostinho de Hipona, Santo. Contra epistulam Parmeniani (Contra a Carta de Parmeniano). (Citado no Cap. 1).
  • Boff, Leonardo. (Ano da publicação não especificado no texto original). Igreja: Carisma e Poder. (Adaptado no Cap. 1).
  • Brueggemann, Walter. The Prophetic Imagination. (Citado no Cap. 2).
  • Calvino, João. Comentário de 1 Coríntios. (Citado no Cap. 2).
  • Cícero, Marco Túlio. (Referência a seu uso do termo secta em contextos filosóficos, como secta stoicorum). (Citado no Cap. 1).
  • Henry, Matthew. Commentary on the Whole Bible. (Citado no Cap. 2, referente a Números 16).
  • Locke, John. Carta sobre a Tolerância (1689). (Citado no Cap. 1).
  • Moltmann, Jürgen. A Igreja na Força do Espírito (1975). (Citado no Cap. 1).
  • Rousseau, Jean-Jacques. (Referência ao seu tratamento do sectarismo no contexto do contrato social). (Citado no Cap. 1).
  • Shedd, Russell P. O Espírito, a Igreja e o Mundo (1999). (Citado no Cap. 1).


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